Eu lembro de quando eu tinha
uns 13 anos, algo assim, em um desses dias que eu chegava para falar com minhas
amigas com uma expressão desafiadora no rosto, querendo mostrar algo que as
fosse surpreender, e em uma dessas vezes eu perguntei a cada uma delas “qual
o contrário do amor?”, ao que elas respondiam um pouco desconfiadas que era o
ódio, não era? Ai então que eu respondia que não, e revelava que quando há ódio, o indivíduo pelo menos “se importava” de sentir ou desejar algo para o outro,
ainda que esse algo fosse negativo. O contrário dessa coisa explosiva chamada
amor seria, pasmem, a indiferença, com todo o vazio de importância que ela implicava
de uma pessoa para outra. É óbvio que eu tinha ouvido ou lido isso em algum
lugar, mas minhas amigas ficaram com certeza intrigadas com toda essa sacada, e
eu considerava que eu havia aprendido uma grande revelação com aquilo. Bom,
talvez eu tivesse.
Hoje,
com mais de 20 anos de sacadas maiores e menores do que essa, e quase uma década depois do ocorrido, enquanto eu ouvia uma música pela provável milésima vez, eu finalmente
vi como ela orna com toda essa teorização tão “teenager orkutiana” que eu
tive todo esse tempo atrás. A música é narrada por alguém que não é nem
remotamente capaz de retribuir os sentimentos de um outro alguém, que o ama
profundamente. Esse tal narrador chega a dizer que os aqueles “olhos azuis só poderiam encontrar os meus numa sala cheia de pessoas menos importantes que você”. Com
isso, eu passei a racionalizar como essa espécie de asco que o narrador sente pela
tal criatura apaixonada foi motivação suficiente para que uma música fosse
escrita a respeito de toda a situação. Tantas vezes, na história desse mundo enorme, o
amor, o ódio e alguns sentimentos mais intermediários foram as inspirações para
tantas músicas, histórias, ações e reações... Mas quantas noites você já passou
acordado por conta de uma pessoa com que você não se importa nem pensa a
respeito? Não precisa nem parar pra pensar pra ver que não faz o menor sentido.
E é exatamente isso que me faz sentir um estranho por dentro, sabe? Porque hipoteticamente daria pra perceber os pares de olhos que estão
desesperadamente desejosos de cruzar com os meus, e eu poderia notar os olhos que me evitam fortemente, ou que rolam de desgosto quando encontram com os meus, porém existem também aqueles olhos que não se demoram nem uma fração de segundo a mais ao cruzar
com os meus. Os últimos parecem a mim extremamente temidos agora, porque mesmo
na música, se ninguém mais importante aparecesse no lugar, os olhares do
narrador e do apaixonado teriam a chance de se cruzar, mas nessa ultima situação não, os olhos que não
se importam (ou o coração e a mente por trás deles) nunca vão me dar uma canção,
nem de amor, nem de repulsa, eles não vão dar uma reação sequer até que se
importem o suficiente comigo para tal. E mesmo com todas essas teorias que eu
tinha quando era criança (apesar de que eu preferia o termo “pré-adolescente”), eu acabei chegando a ser quem sou hoje com um medo de estar “fria”
ou “quente” demais para o gosto dos outros, sem perceber, até agora, que o que é “morno” nunca consegue
ser “incômodo” o suficiente para sequer ser notado por quem está ao redor.
(Nota de apelo: não sou a favor do ódio, do asco, nem da repulsa e todas essas coisas "lindas" só por que eu estou dizendo que às vezes isso dói menos que a indiferença, ainda é feio, gente) ;)
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